quinta-feira, 16 de novembro de 2017

O Mito de Don Juan e o protagonismo social do homem (Resumo)

Don Juan y l'estatua del Comendador.

Versão Resumida
Fizemos aqui algumas reflexões sobre a solidificação do protagonismo social do homem em detrimento da passividade feminina sob a ótica da obra teatral “El burlador de Sevilla” de Tirso de Molina.




O mito de Don Juan, inaugurado na literatura, por Tirso de Molina no início do século XVII, conhecido como o século de ouro da literatura espanhola, busca efetivar o discurso da moral cristã, onde a monogamia e a repressão dos desejos humanos eram elementos caros para a boa conduta social. A peça de Molina nos dá, no entanto, uma rica contextualização dos papeis sociais do homem e da mulher daquela época.
Apesar dessa história ter sido compilada de outros contos e peças mais antigas, atribui-se a Molina a primeira referência escrita dessa peça. É essa obra que pela primeira vez trará à tona o mítico personagem Don Juan, que no decorrer dos séculos posteriores será objeto de diversas releituras e adaptações para contextos sociais diversos, incluindo versões traduzidas para a linguagem cinematográfica com o advento do cinema já no século XX.
O Don Juan de Molina não é um sedutor apaixonado, mas sim de um enganador crônico que se satisfaz desonrando as mulheres tanto da nobreza quanto as pescadoras mais desprovidas de destaque social. 
A figura essencial desse mito é o homem. É então somente o homem que detém uma característica ativa enquanto a mulher é totalmente objeto da ação desse homem. Como coadjuvantes, às mulheres só restava confiar nos destinos que os homens lhes concediam. Até mesmo a desonra sofrida por elas não era passível de vingança pelas suas próprias mãos. 


O mito de Don Juan nos permite hoje entender o quanto a coibição da ação feminina era alegórica para o protagonismo social do homem da Espanha do século XVII.
Esse mito se torna recorrente na literatura ocidental. No decorrer da história ele foi retomado e transformado de acordo com a corrente ideológica atuante. Se o Don Juan de Molina é contumaz com o período histórico em que vive o autor, o Don Juan de Byron traz uma nova leitura do mito, tornando-o um herói sedutor que ama as mulheres e não mais as engana. Visão somente possível dentro da ótica romântica que idealiza uma mulher desejada, quase sacra.
Ou seja, a obra de Molina assim como a de Byron, são fotografias de seus momentos históricos e o fato de não ser possível transpor o Burlador de Sevilha de Molina para o século XIX ou XX, revela que, se não desfrutam de um protagonismo social pleno, as mulheres não estão a total mercê dos caprichos masculinos como antes estiveram.

Leia o artigo completo AQUI

Referências bibliográficas:

  • BEZERRA, Paulo Victor; JUSTO, José Sterza. O Mito de Don Juan e a subjetividade moderna. R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.11, n.2, p.72-95, Jul-Dez. 2014. Disponível em: Acesso em: 27 de julho de 2017.
  • BEZERRA, Paulo Victor; JUSTO, José Sterza. E se Don Juan fosse uma mulher? Um estudo acerca das transformações do mito. Diásporas, Diversidades, Deslocamentos. 23 a 26 de agosto de 2010.
  • KARDOUS, Paul. A sedução: Don Juan e as mulheres. PUC/SP. São Paulo. 2010.
  • MOLINA. Tirso de. El Burlador de Sevilla. Trinity University, Texas, 2003
  • PEDRO, Claudia Bragança; GUEDES, Olegna de Souza. As conquistas do movimento feminista como expressão do protagonismo social das mulheres. Anais do I Simpósio sobre Estudos de Gênero e Políticas Públicas, ISSN 2177-8248. Universidade Estadual de Londrina, 24 e 25 de junho de 2010. GT 2. Gênero e movimentos sociais – Coord. Renata Gonçalves. 2010.
  • RIBEIRO, Lilian dos Santos Silva. Don Juan e a construção de um Mito em El Burlador de Sevilla. Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, letras e Ciências Humanas, departamento de Letras Modernas, Programa de graduação em Literatura Espanhola. São Paulo, 2007.
  • SUÁREZ, Carmen Becerra. El Mito de Don Juan em el Cine. marzo-abril [2011] 259-267 ISSN: 0210-1963. Universidade de Vigo. 2011.



    André Stanley é escritor e professor de História, Inglês e Espanhol, autor do livro "O Cadáver", editor dos blogs: (Blog do André Stanley, Stanley Personal Teacher). Colaborador do site especializado em Heavy Metal Whiplash. Foi um dos membros fundadores da banda de Heavy Metal mineira Seven Keys. Também é fotógrafo e artista digital.

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