quarta-feira, 8 de março de 2017

A origem do Dia Internacional das Mulheres.



O dia 8 de Março foi instituído pela ONU em 1975 como o Dia Internacional da Mulher. Essa data não é somente uma comemoração, mas foi estabelecida como um dia de debates e reflexões sobre o papel das mulheres na sociedade moderna. Para saber como esse dia foi escolhido como tal é preciso retroceder no tempo para o final do século XIX, momento onde o processo de industrialização estava a pleno vapor, e as fabricas exploravam ao máximo a mão-de-obra barata. Trabalhadores eram confinados a fazer serviços pesados durante mais de 10 horas diárias – chegavam a trabalhar 16horas em um só dia. Agora se você fosse mulher essa situação era amplificada, pois além de trabalharem demasiadamente – chegavam a ficar 12 horas literalmente trancadas dentro de um fabrica – recebiam muito menos que um homem. Muitas trabalhavam por um 1/3 do salário de um trabalhador médio masculino.

A data escolhida pela ONU para instituir o Dia Internacional das Mulheres refere-se a um evento que teria ocorrido no dia 8 de março de 1857, onde um grupo de operárias norte-americanas que trabalhavam em uma fabrica de tecido na cidade de Nova Iorque organizaram uma greve, ocuparam a fabrica reivindicando melhores condições de trabalho e redução da jornada. O desfecho do evento foi trágico, segundo a tradição oral, os proprietários da fabrica trancaram as operárias dentro das instalações da empresa e iniciaram um incêndio que matou as 129 mulheres amotinadas. Mas apesar de esta ser a história que muitos acreditam ter dado a origem da comemoração da data, não há evidencias históricas desse evento. Não há noticias de jornais da época, não há nenhuma menção documentada sobre o incêndio de 8 de março de 1857. O que nos leva a concluir que é uma ficção disseminada por meio da história oral ou no mínimo, uma grande confusão histórica, pois houve no inicio do século XX, alguns incêndios de grandes proporções em fabricas nos EUA, para ser mais especifico no dia 25 de março de 1911 uma fabrica de tecido na cidade de Nova Iorque matou 146 pessoas dentre elas 123 eram mulheres. Ao contrário do suposto incêndio de 1857, essa tragédia foi muito bem documentada e algumas fotos atribuídas como sendo do incêndio de 8 de março de 1857 são na verdade imagens do grande incêndio de 1911.

Foto jornalistica de algumas vítimas do incêndio de 1911 em NY



O primeiro Dia Nacional da Mulher foi celebrado em maio de 1908 nos Estados Unidos, quando cerca de 1500 mulheres aderiram a uma manifestação em prol da igualdade econômica e política no país. No ano seguinte, o Partido Socialista dos EUA oficializou a data como sendo 28 de fevereiro, com um protesto que reuniu mais de 3 mil pessoas no centro de Nova York e culminou, em novembro de 1909, em uma longa greve têxtil que fechou quase 500 fábricas americanas.


Greve Têxtil de 1910

Há também evidencias sobre a comemoração do dia Internacional da mulher na Alemanha, Áustria e Suécia no dia 19 de Março de 1911.


Poster alemão de 1914 em comemoração ao
Dia Internacional da Mulher, conclama
o direito ao voto feminino.

O dia 8 de março ganhou força com a grande manifestação das mulheres russas ocorridas nessa data no ano de 1917 que exigiam melhores condições de trabalho e eram contra a entrada da Rússia czarista na Primeira Guerra Mundial. Tais manifestações deram inicio ao processo revolucionário que derrubou o Czar Nicolau II. Na Rússia stalinista o dia internacional da mulher era usado como propaganda do partido comunista, o que de certa forma fez com que durante a Guerra Fria o ocidente buscasse outra fonte para justificar o 8 de março.

Ou seja, a instituição da data tem forte conotação política. E mesmo que a versão ocidental sobre a origem do dia Internacional seja fictícia, sabemos que houve sim uma eferverscência dos movimentos feministas já no final do século XIX e início do XX contra a opressão da sociedade industrializada que se desenhava sub-humana para a vida social da mulher. Portanto é uma data para reflexão. Uma reflexão sobre as conquistas alcançadas pelos movimentos operários de mulheres que decidiram não mais ficar caladas diante da opressão social cada vez mais devastadora. Analisando o que essas mulheres que botaram suas caras a tapa fizeram em seu tempo, pode tornar as manifestações de grupos feministas da atualidade simples atividades performáticas. 





Fontes:


André Stanley é escritor e professor de História, Inglês e Espanhol, autor do livro "O Cadáver", editor dos blogs: (Blog do André Stanley, Stanley Personal Teacher). Colaborador do site especializado em Heavy Metal Whiplash. Foi um dos membros fundadores da banda de Heavy Metal mineira Seven Keys. Também é fotógrafo e artista digital. 



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